segunda-feira, 1 de abril de 2024

 A Velhice II


    Quero falar das dores da velhice. Não aquela dor que vemos quando temos coragem de encarar o espelho e aquela mulher (homem) desconhecid@ te devolve o olhar cercado de olheiras azuis, com o branco dos olhos, de fato cor de rosa, opaco e injetado de veias minúsculas. Não essa.

     Eu falo da dor mesmo, física, implacável, sem avisos e sem vergonha. Aquela que te assalta de noite ou de dia, em plena caminhada feliz da manhã, no cinema (quando você procura uma posição confortável na cadeira), ao soltar uma gargalhada  por uma piada boa, quando enxuga os pés depois do banho, quando vai guardar as panelas lavadas em baixo da pia, quando vai tirar aquela travessa de bacalhau nas natas do forno.

     Quando você percebe que sua pele parece estar toda queimada e mesmo a roupa tocando te traz essa dor angustiante. Quando você percorre sem solução todos os corredores de todos os consultórios disponíveis para acabar com ela e a maldita resiste a a farmacopeia  desses médicos a soldo dos laboratórios.

     Quando você, às vezes, quer desistir, se entregar a ela, a dor, a velhice. Quando percebe que ninguém entende sua dor, por mais que explique. Que, na verdade, ninguém pode fazer nada. Que existe. também, uma incredulidade das pessoas diante da sua dor. Porque a nossa dor é nossa, de mais ninguém., como diria Marisa Monte, em "De mais ninguém", dor física, real, que nos percorre o corpo à vontade, como um invasor que reconhece seu novo domínio. 

    Veio embarcado na velhice, uma nave que vem do futuro e aporta no teu corpo, fincando a bandeira imperialísta da vida.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O  meu novo livro "Quando a luz do sol entrar" trata de um romance de mistério e crime e se passa na fronteira entre São Paulo e o sul de Minas Gerais. É uma história, ou estória, sobre mortes ocorridas em três gerações de famílias do povoado de Águas Claras, numa cidade fictícia de Serra Molhada, igual a tantas daquela região. Ali mesmo está o Caminho Velho e o Caminho Novo (ou Estrada Real) que eram usados para escoar a produção de ouro e pedras preciosas das Minas Gerais para o mercado europeu. É uma região de montanhas, mas também foi, por muito tempo,  de fazendas de café, de gado, de açúcar, de algodão, depois frutas, verduras, legumes, cogumelos. As antigas fazendas agora são atração turística e viraram hotéis para abrigar turistas que vão escalar as montanhas ou simplesmente descansar da vida agitada das cidades grandes. Que tal  se perder no labirinto de opções que os personagens te oferecem, cada um com a sua história (ou estória), e descobrir antes, durante ou depois do fim quem morreu de morte matada? A venda no Amazon. Vai lá!

Quando a Luz do Sol Entrar: Três gerações, quatro mortes, um mistério. - eBooks na Amazon.com.br


terça-feira, 5 de setembro de 2023

Como uma velha bruxa que sou, vou dar a receita de um drink que vai deixar minhas amigas e meus amigos felizes. Os netos não estão na lista. Ponto final.
Quando você acordar amanhã,, faz um chá que é o seguinte: um punhado de hibisco seco, uma rama de canela, um pedaço de gengibre picadinho e alguns cravos (eu ponho de três a cinco). Derrama água fervente em cima e deixa virar chá. Esse chá eu faço a cada 2 ou 3 dias Depois, quando chega a tardezinha e o sol vai fazendo aquela mágica, você pega uma taça de martini e põe duas pedras de gelo, uma rodela de limão e uma dose de gin. Derrama meu chá até o ponto da taça. Pode tomar olhando o por do sol. Pode tomar xingando "você sabe quem", começando com B (ou não). Pode tomar duas vezes, erguendo a taça aos nossos ídolos (que ainda são os mesmos), aos nossos sonhos futuros, passados e PRESENTES. Tim-tim!!!!!!!!
Meu drink de bruxa é divino, vale a pena.
Amanda Koskur, Mirian Eller Silva e outras 3 pessoas
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terça-feira, 4 de outubro de 2022

 A Mulher do Espelho

Na minha sala, em frente à mesa de refeições, tem um espelho. Nele eu vejo, diariamente, uma mulher mais ou menos da minha idade, que às vezes me sorri e cumprimenta e outras me mostra o dedo do meio. 

É uma criatura instável e eu costumo mandar-lhe um sinalzinho com a mão, por medo de maior proximidade. Penso sempre como deve ser bom morar no apartamento dela, as coisas que ela tem na sala estão bem posionadas e o corredor que conduz aos quartos é mais sombrio e misterioso. Não sei como é a cozinha dela. suponho que ela não saiba como é a minha. 

Às vezes finjo que não a vejo. Tem dias que não quero vê-la. As linhas do seu rosto parecem mais marcadas que as minhas e ela tem o hábito de tentar disfarçar os sinais da idade colocando rídiculos apliques para ocultar seus cabelos ralos ou uma leve maquiagem para disfarçar as olheiras.

Ela sabe quando quero ignorá-la e fica fazendo salamaleques e caretas para chamar minha atenção. Tenho pensado em retirar todos os espelhos da casa para não encontrá-la com tanta frequência, limitando nossos encontros ao elevador do edifício ou vitrinas do centro comercial, quando nos cumprimentamos com disfarçados acenos, para não revelar aos demais moradores ou câmeras de segurança nossa familiaridade. Mas uma decisão dessas me remeteria a uma devastadora solidão.

Enquanto isso, nos olhamos todos os dias e, às vezes, nosso olhar é tão semelhante de compaixão, que nós, apenas nesses momentos, sabemos o quanto somos parecidas.



quarta-feira, 22 de junho de 2022

 

                                UM TEMA SOBRE A IGUALDADE, COM PRETENSÕES FUTURÓLOGAS.

Um debate que não se sustenta no mundo masculino, diante da realidade e dos dados científicos que apontam para a evolução da sociedade, é o lugar que as mulheres ocuparão nos destinos da humanidade, a partir do próximo decênio.

 Embora para os homens que dirigem o mundo este assunto não faça parte de suas prioridades, pois estão ainda interessados em guerras territoriais e sobrevivência de suas empresas diante da velocidade da ciência no campo de armas, de inteligência artificial e da informação digital, as mulheres vão conquistando o espaço na direção das empresas, da educação de crianças, jovens e adultos, da informação digital e da luta  pela segurança ambiental. As mulheres também estão ocupando o espaço da ciência, sem alarde e com eficiência.

 Em 2020 serão a maioria da população mundial. Em 2030, ocuparão 50% dos postos de direção política no mundo.

Prever como será o mundo em 2040 já é possível, considerando que as mulheres têm prioridades diferentes dos homens. Crianças criadas por mulheres, sem a presença masculina, já é uma realidade em todos os países, no Brasil inclusive, tendo em vista a distância que os homens ficam de seus filhos de casamentos anteriores. Meninos e meninas com uma visão diferente sobre o que é guerra territorial, armas nucleares, destruição ambiental em favor de lucros imediatos, serão em 2040 os dirigentes do planeta. Meninos e meninas com uma visão de convivência diferente da visão atual, que já está se desmoronando agora, com toda a informação que é possível para meninas e meninos em todas as classes sociais.

Embora o presente nos mostre a derrocada de todas as crenças sociais sobre castas e religiões, a impressão que fica é da instalação do caos, da fome, da miséria e das guerras, nos países produtores de petróleo ou de  outras riquezas naturais, que aguçam a ganância dos chamados “povos de primeiro mundo”. Imagine a geração que vai sobrar desses conflitos, criadas por mulheres que estarão no comando da família, da comunidade, da medicina, da educação, da ciência e, por fim da tecnologia. Mais ou menos como a Europa depois da chamada “Guerra Santa” da conquista de Jerusalém, na idade média. Só que sem os sobreviventes que condenaram as mulheres às fogueiras, como bruxas, na inquisição.

Na minha família, a recente e crescente luta por igualdade de direitos sociais e políticos entre os gêneros ainda é uma guerra em que a teoria e os debates se acaloram e chegam quase às vias de fato. O entendimento masculino de igualdade difere, apegando-se a jargões e estereótipos dos anos 60, que foram os responsáveis pela criminalização do feminismo. Mas isso se dá no nível da geração anterior aos meus oito netos. Eles serão esses meninos e meninas sobreviventes ao caos de hoje. Criados por fêmeas e machos para sobreviverem, junto com o planeta e a mãe natureza, que serão a única religião futura.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

 Há um ano que não posto no meu velho blog, de mil coisas e tal. Acordei hoje curiosa em rever meus escritos, nos tempos bons do governo Lula, de Antonina, de netos pequenos e descobridores do mundo efervescente do quintal da minha casa, cheio de borboletas, joaninhas, cobras e lagartos, literalmente, e frutas e passarinhos, gafanhotos, formigas, cachorros.  Era um mundo em que o tempo passava devagarinho, de cuidar de flores e verduras, de gente grande e pequena. Grandes tempestades, lindos amanheceres cheios de piados, trinados, latidos, risos. Mas a vida vai acontecendo mesmo que a gente não queira, vem o choro, as partidas, as retomadas, aprender a gente aprende, recordar a gente recorda, mas não é bom. Páginas do tempo viradas, muita água passou pelos riachos e cachoeiras dessa vida. Voltar não volta, né? como fazer descrescer uma criança, nascer de volta uma árvore que tombou, parar e consertar um país que foi escoando pelo ralo, uma cidade que foi só se desmanchando, um povo que perdeu o rumo, uns amigos que sumiram por estradas diferentes da minha, na encruzilhada decisiva que cada um toma e por sua própria vontade? Não tem jeito. Tem covid para a gente se entocar e ficar longe de tudo. Tem nazistas pra nos intimidar e tenho medo de usar minha estrela vermelha na máscara e morrer de morte matada. Um tempo que passa, a cada suspiro foi o dia. Um animal selvagem chamado celular, que tem vida própria e fica me levando os minutos e as horas, gritando que isso e aquilo. Gostava mais quando a gente debatia com a companheirada, correntes e tendências, filosofando sobre o mundo que a gente queria para nós e para todos. Agora só lutando para voltar ao normal, juntando gente de outros interesses pra tornar uma corrente mais comprida, mais volumosa, capaz de rasgar o escuro e deixar o sol entrar. Um desabafo. Muita esperança, Saudades.

terça-feira, 23 de março de 2021

Quando eu fiz quinze anos minha mãe resolveu fazer uma festa em casa. Não éramos dessa gente que debutava, morávamos no  Jardim Casqueiro, um bairro operário de doqueiros e estivadores do porto de Santos. Eu mesma desenhei e costurei um tubinho, que tinha um triângulo invertido de linho azul marinho na frente do vestido de linho branco. Eu tinha brigado com meu namorado, que tinha me traído com a filha do prefeito, uma ninfeta de 13 anos com aparelho nos dentes. Mamãe fez bolos, doces, salgados, coisas deliciosas que ela sabia fazer desde que nascemos, desde o primeiro  dia da minha existência. Mandou varrer o terreiro e comprou discos. Eu tinha uma vitrola daquelas que a gente abria e tinha a caixa de som na tampa. Era azul turquesa e branca. E eu fiz um penteado na Vanda, a irmã da minha amiga Vilma, que estava aprendendo a pentear. Um coque alto cheio de laquê. Daí começaram a chegar as convidadas e os convidados. Pusemos Ray Conniff, Neil Sedaka, Paul Anka, Pat Boone (alguém emprestava discos também). Meu pai com sono cochilava, minha mãe servia todo mundo, bolo, parabéns, e batem  palmas no portão. Era o Seu Fausto, amigo do meu pai,  pai da Maria Eliza, do Faustinho,  da Seilinha. Uma figura respeitada no bairro, teatrólogo, compositor, anarquista, carioca. Estivador. Queria me apresentar um grupo de "amigos dele",os mais velhos,os galãs,os caras que dançavam no Clube. Que eram os lindões e que garotas de 15 anos estavam fora da rota deles. Queriam entrar na festa e foram chamar seu Fausto, o pai das minhas amigas, pra pedir pra entrar na nossa festinha de quinze anos, de criaturas saindo das fraldas pro mundo. Eu fiquei com medo, mas disse sim. Eles entraram e dançaram com a gente, eu nem me lembro direito como isso foi. Mas acho que foi desse jeito. Me senti totalmente vingada pela traição do meu namorado, com quem me casei quando tinha dezenove anos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

    Como uma velha bruxa que sou, vou dar a receita de um drink que vai deixar minhas amigas e meus amigos felizes. Os netos não estão na lista. Ponto final.

       Quando você acordar amanhã,, faz um chá que é o seguinte: um punhado de hibisco seco, uma rama de canela, um pedaço de gengibre picadinho e alguns cravos (eu ponho de três a cinco). Derrama água fervente em cima e deixa virar chá. Esse chá eu faço a cada 2 ou 3 dias Depois, quando chega a tardezinha e o sol vai fazendo aquela mágica, você pega uma taça de martini e põe duas pedras de gelo, uma rodela de limão e uma dose de gin. Derrama meu chá até o ponto da taça. Pode tomar olhando o por do sol. Pode tomar xingando "você sabe quem", começando com B (ou não). Pode tomar duas vezes, erguendo a taça aos nossos ídolos (que ainda são os mesmos), aos nossos sonhos futuros, passados e PRESENTES. Tim-tim!!!!!!!!

O chacareiro feliz

 Faz alguns anos eu morava em Antonina. Eu a e a mana (tia Célia) tínhamos, todos os anos, que fazer prova de vida em Paranaguá. Íamos no ônibus de linha de Antonina a Paranaguá, passando por Morretes. No meio do caminho, uma vez, subiu um rapazito, muito alegre, que conversava com as pessoas. O ônibus, cheio, pessoas em pé, eu sentada, a mana em outro banco. O rapaz sentou ao meu lado e era dessas pessoas que conversam, ao contrário de mim. Ele não desistiu dos meus monossílabos,. Falou de sua vida em Morretes, um sítio em que vivia com sua mãe e criava, plantava e vendia. E foi dizendo coisas que começaram a me encantar. Uma simplicidade sem limite, E disse assim: "sabe essa história de depressão? Pois não existe depressão se uma pessoa tiver uns cabritinhos no quintal! Duvido!". PRONTO!!!!! Me disse da alegria que ele tinha todos os dias de sua vida de pessoa simples, ao abrir as janelas de seu quarto para os cabritinhos pulando, alegres pelos simples prazer de estarem ali no quintal. E aminha vida e meu sonho de mundo perfeito se resume em um quintal cheio de cabritinhos pulando, numa praia deserta, cheia do barulhos das marés, meus netos em férias, eu cheia de de livros pra ler e escrever. Paraíso!!!!!! Onde será que está o filósofo da minha existência, tantos anos depois?????