terça-feira, 23 de março de 2021

Quando eu fiz quinze anos minha mãe resolveu fazer uma festa em casa. Não éramos dessa gente que debutava, morávamos no  Jardim Casqueiro, um bairro operário de doqueiros e estivadores do porto de Santos. Eu mesma desenhei e costurei um tubinho, que tinha um triângulo invertido de linho azul marinho na frente do vestido de linho branco. Eu tinha brigado com meu namorado, que tinha me traído com a filha do prefeito, uma ninfeta de 13 anos com aparelho nos dentes. Mamãe fez bolos, doces, salgados, coisas deliciosas que ela sabia fazer desde que nascemos, desde o primeiro  dia da minha existência. Mandou varrer o terreiro e comprou discos. Eu tinha uma vitrola daquelas que a gente abria e tinha a caixa de som na tampa. Era azul turquesa e branca. E eu fiz um penteado na Vanda, a irmã da minha amiga Vilma, que estava aprendendo a pentear. Um coque alto cheio de laquê. Daí começaram a chegar as convidadas e os convidados. Pusemos Ray Conniff, Neil Sedaka, Paul Anka, Pat Boone (alguém emprestava discos também). Meu pai com sono cochilava, minha mãe servia todo mundo, bolo, parabéns, e batem  palmas no portão. Era o Seu Fausto, amigo do meu pai,  pai da Maria Eliza, do Faustinho,  da Seilinha. Uma figura respeitada no bairro, teatrólogo, compositor, anarquista, carioca. Estivador. Queria me apresentar um grupo de "amigos dele",os mais velhos,os galãs,os caras que dançavam no Clube. Que eram os lindões e que garotas de 15 anos estavam fora da rota deles. Queriam entrar na festa e foram chamar seu Fausto, o pai das minhas amigas, pra pedir pra entrar na nossa festinha de quinze anos, de criaturas saindo das fraldas pro mundo. Eu fiquei com medo, mas disse sim. Eles entraram e dançaram com a gente, eu nem me lembro direito como isso foi. Mas acho que foi desse jeito. Me senti totalmente vingada pela traição do meu namorado, com quem me casei quando tinha dezenove anos.

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