Este texto é uma resposta aos meu querido e incondicional amigo Luiz Henrique, que insiste em considerar Canduca um homem
traído por gente malvada e
louca pelo poder.
Antonina, como toda cidade pequena, sofre do mal das línguas soltas. Pessoas que não participam de fatos tendem a inventar as brechas do que ouvem falar e constroem sua própria verdade. Numa cidade grande você precisa ser muito conhecido para ser alvo de comentários. Já em cidades pequenas, como Antonina, seu Maneco das Couves, dona Maria da Quitanda e o jovem Pé de Mesa, por exemplo, tem -também não me acostumo com a falta do acento- sua vida representada na praça por diversos atores. A boca maldita da cidade (Jequiti) ferve todos os dias, desde junho, com uma conversa mole de traição ao pobre (???) e ingênuo (!!!!) alcaide. Pois bem, vamos agora aos fatos: no ano passado, o PT saiu do governo municipal, depois de muita discussão interna, por ter constatado que na verdade nunca pode participar de fato do tal governo. A passagem pela secretaria do meio ambiente foi meteórica, por impedimentos burocráticos e legais (incompatibilidade de horários nos dois cargos exercidos). Os outros secretários sempre trataram suas secretarias como um emprego, os assuntos não eram discutidos com o partido. Quase todo os requerimentos apresentados pela vereadora Marga no legislativo foram ignorados pelo executivo. Então, ao sair do governo, o regulamento do partido prevê que cargos de confiança devem ser entregues, e isso é coerência. Mas as pessoas não queriam entregar o cargo, então responderam processo administrativo por infidelidade partidária e foram expulsas. No mesmo momento, o PT decidiu caminhar com suas pernas, com uma candidatura própria. Ponto.
Depois disso, o ano de 2012, das eleições, começou cedo pro PT de Antonina. Em 04 de fevereiro, no Recanto das Bromélias, fizemos um encontro de planejamento. Nesse encontro, discutimos alianças, construção do programa de governo, possíveis pré-candidatos, etc. E depois disso partimos pra luta: conversas com líderes de outros partidos aliados do governo federal, 43 reuniões sobre todos os temas do programa de governo com lideranças dos movimentos sociais e especialistas nos assuntos, estudos sobre legislação eleitoral, políticas públicas do Governo Federal, capacitação dos pré-candidatos. Neste processo de construção das candidaturas, tanto majoritária como proporcionais, percebemos que precisávamos nos aliar a outros partidos para a implantação do programa. Para acabar com o preconceito contra nossas bandeiras usamos a mesma estratégia que o nosso querido companheiro Lula usou para se eleger presidente do país. E queremos ganhar esta eleição e mostrar aos antoninenses que não temos parte com o capeta. Ponto.
Daí que nesses seis meses de trabalho duro, nosso alcaide dormia em berço esplêndido. Contava decerto com o fato de que, na campanha anterior, não havia mexido um dedo, nem precisava, todo mundo fazia tudo pra ele. Contratou o expulsadinho bolinado pra falar coisas na rádio. Um camarada que entrou no PT com a intenção de ser prefeito e de lá saiu quando viu que não ia dar. Contratou esse cara, que não julga traidor, mas que assinou, encabeçando a lista, um documento que pedia o rompimento do PT com o governo Canduca. Enquanto isso, Zé Paulo, secretário da saúde do município, saiu no tempo hábil para participar das eleições, com o conhecimento pleno do alcaide. Muitas evidências, para quem estava no bonde, davam conta de que ele seria o sucessor. O simpático alcaide não queria brincar mais, estava cansado. Promovia seu amigo e o disse em alto e bom som, muitas vezes, com platéia e testemunhas. Como não se mexia para articular a sua reeleição, indagado por suas bases, fazia ouvidos moucos e, vocês sabem, em futebol, quem não faz, toma. Em política também. Chegou o prazo para que os partidos mostrassem suas caras, e ele, o alcaide indeciso e silencioso, nada. Um mistério. Zé Paulo, amigo leal - eu tenho certeza disso - adiava declarar-se candidato enquanto não fosse liberado por seu parceiro e mentor, o que aconteceu diante de uma platéia na inauguração do CAPS. Ponto.
A gritaceira se deu nas vozes de quem? Adivinhem! Dos que estão em postos de comando, que sentem, como personagem de novela das sete, o sucesso fugindo, o carguinho se desmilinguindo, o salário sumindo. O poder vicia alguns e corrompe outros. Quem procura por ele para seu próprio uso e benefício não se conforma com as voltas que mundo dá. Sair do palco, tirar a maquiagem, passar desapercebido, quem há-de? Não é o caso do alcaide, rapaz de boa índole, um Luís XVI, mas de sua corte, que teme o povo e a revolução, e não tem nenhum brioche de goiaba na algibeira.
Traição? Golpe? Menos. Digamos que, plagiando Vinícius de Moraes, uma rede e um gato pra passar a mão, depois de lauta feijoada, vicia o corpo. Preguiça, este é o termo.