sexta-feira, 23 de abril de 2010


O Porto Seco
(do jeito de guimarães rosa)

O porto seco, de sem-mar, do de sal depositado,
do além mais do sol, de não alcançar, e descer até;
e de rio, remanso vindo, vindo, vindo, nenhum chegando, desanunciado.
Escuto não, pois? Porto seco, de aonde?
De vai, de vem, de tudo maquinado no quente.
Longe de muito, o viajar começado - aonde o trajeto? - de lá, mesmo, e mesmo que rio que é, sendo, serpenteado, do dessa figura do não-chegar.
De rios, eu, nós, não conjugamos entendimentos, e ciência não, se tanto nunca sabemos,
nunca é, e, quando olhos-mesmo-de-ver, possível fosse,
águas de barrenta prenhez: não sei, é, hão-de, do jeito de depois, eu, nós, não-sendo foi.
Quanto nem fosse que tantos os entrementes, de assim, e apois, e, passar de árvores,
renhida a luta galhosa,de vegetais torcidosos, de doloridos uivos, raiz-de-onde,
vindo, de ter chegado, faisqueira de bem de antes: aonde, não sei, se?
Porto do seco, inseguro-não, do tremendo: volteada a costa, do jeito indo, é não,
sendo cais-de-chegar, não fundeia de ausente muito, de não vindo,
de saído ancorado no lugar de lá, dos antes, do tudo,
do porto onde exatos são os afundamentos, os de não chegares, de ver-não, de-nunca-foi.
Há o porto, do vir de onde, do depois de, do de ventos marujados.
Há de ser, fosse do que vem, do é que vinha, anunciada é a voz: porto seco, de águas-não.
Aonde, não sei, se?
(Antonina, dezembro/2001)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Análise sobre o DATAFOLHAConversei com um dos principais analistas brasileiros de pesquisas de mercado, para entender esse imbróglio das pesquisas eleitorais para presidente da República.

O ponto fora da curva foi, efetivamente, a pesquisa Datafolha de 29 de março passado. Todos os institutos – inclusive o próprio Datafolha – apontavam para uma aproximação crescente entre Dilma e Serra, com perspectiva de empate no curto prazo.

Aí vem a pesquisa Datafolha e apontou para um cenário diferente, o aumento da distância entre os dois candidatos, sem nenhum fato novo que justificasse a mudança.

A estranheza aumentou quando Mauro Paulino, diretor do Datafolha, escreveu artigo para a Folha apresentando os motivos que via para a mudança.

Primeiro, alegou que a melhora se deveu à redução das chuvas em São Paulo. Mas como assim, se o estado onde se registrou a maior mudança foi o Rio Grande do Sul? Como poderia o fim das chuvas em São Paulo influenciar o eleitor do Rio Grande do Sul e não influenciar o de São Paulo.

A segunda alegação era mais risível ainda: a mudança se deveria à entrevista dada por Serra ao programa do Datena. Nem dentro do Datafolha se acredita nessa história, diz o analista. Como supor que uma entrevista de Datena tivesse o condão de mudar a opinião de 5 milhões de eleitores?

As duas explicações de Paulino eram muito fracas para explicar mudanças tão grandes como aquelas. Três semanas depois, vem a pesquisa seguinte, que teria tudo para registrar uma melhorar de Serra, porque imediatamente após o anúncio da candidatura, com muita mídia em torno do evento. Deveria haver um aumento da diferença entre Serra e Dilma, mas a diferença ficou no mesmo lugar da pesquisa anterior.

Quando não era para haver, houve; e quando era para haver, não houve.

Diferenças metodológicas

Existem diferenças metodológicas entre três institutos – Ibope, Vox Populi e Sensus – e o Datafolha, explica o estatístico. No item escolaridade, a amostra do Datafolha tem até 12 pontos de diferença em relação a do IBGE.

É o único dos grandes institutos que adota essa metodologia de pesquisa, de aplicar os questionários em pontos de maior movimento das cidades escolhidas – e não nas casas dos eleitores.

Em princípio, é uma metodologia defensável também, desde que se tenha o cuidado ao inferir os resultados. Pode provocar diferenças, ao não entrevistar quem não sai de casa.

O que chama a atenção, porém, é que até o fatídico dia 29 de março, essa metodologia não estava trazendo nenhuma diferença relevante em relação aos demais institutos. As duas últimas pesquisas do Datafolha registraram grande convergência com os resultados dos demais institutos. Os quatro institutos estavam completamente dentro da reta estimada de evolução dos votos de ambos os candidatos.

O que teria ocorrido, então?

O estatístico não sabe dizer.

Pergunto, em tese, onde pode ocorrer direcionamento de pesquisas.

Em sua opinião, não é nem na definição da amostragem, na escolha dos municípios. Todos esses procedimentos seriam facilmente identificados, já que registrados no TSE.

Se algum instituto quiser manipular, a etapa adequada é a do processamento. Lá, é o analista, o computador e o operador.

Autor: luisnassif -

domingo, 18 de abril de 2010

A mudança na amostragem da DATAFOLHA ( do Portal do Nassif)
O site «os amigosdopresidente» constatou que entre a pesquisa de fevereiro e a de março, o Datafolha aumentou substancialmente o número de bairros consultados em São Paulo – mantendo a mesma quantidade em outros estados.

Teoricamente, pode não ter influência no resultado, se a ponderação, o peso de São Paulo na pesquisa, permanecer o mesmo.

Os pontos que precisamos discutir:

1. Porque ampliou o universo de pesquisa em São Paulo? Havia alguma razão objetiva para fazê-lo, sendo que as maiores dúvidas sobre Serra se concentravam no sul? Mas seria bom saber quais razões. Ou teria sido a pressa em montar a pesquisa para o lançamento da candidatura Serra que fez reduzir, antes, o universo pesquisado?É possível que haja razões técnicas, não estou pré-julgando.

2. Que tipo de interferência essa mudança da amostragem pode ter sobre o resultado final? Aumenta a margem para eventual manipulação de resultados? É possível descartar bairros onde a votação não favoreça o candidato da Folha? Que tipo de auditoria é feita para garantir a lisura dos procedimentos. Os questionários são numerados para evitar descarte?

3. Afinal, saíram os dados detalhados da surpreendente pesquisa extraordinária feita pelo Datafolha – que colidiu com os resultados de todos os demais institutos?

Por Daniel Menezes

Na pesquisa por conglomerados, como parece ser o caso da metodologia do datafolha, há o sorteio das regiões aonde os questionários serão aplicados. Pensando tecnicamente, pode ter acontecido um direcionamento meramente estatístico.

É válido ressaltar que devemos olhar, não apenas a margem de erro, mas também o intervalo de confiança.

Geralmente, as pesquisas eleitorais apresentam um intervalo de confiança de 95%. Isto significa dizer que, de 100 pesquisas produzidas, 5 cairão fora da margem de erro, trazendo diferenças discrepantes da realidade. Esta é outra possibilidade técnica.

Porém, na medida em que as pesquisas são repetidas, o intervalo de confiança melhora significativamente, diminuindo a possibilidade dos números oscilarem fora da margem de erro.

Quando 4 institutos fazem várias rodadas de pesquisa e apenas um destoa dos demais, a tendência desta pesquisa dissonante ter caído naquela pequena possibilidade de estar fora da margem de erro aumenta significativamente.

Se erro tiver sido, de fato, técnico, acredito que a explicação está aí.