sábado, 5 de março de 2011

Fados

Fados de Carlos Saura

Carlos Saura' "Iberia" Trailer

A SUTIL TRANSFIGURAÇÃO DA MULHER NO MUNDO!

E agora, a quatro dias do dia Internacional da Mulher, ocorreu-me de novo, inevitavelmente, a discussão que todo ano me apresenta: qual a discussão que devo fazer? Sempre me revolta os festejos programados das repartições públicas, das empresas, das reuniões civis e comunitárias, quando elas tratam o dia com a banalidade de ofertar flores e homenagens às mães, avós, senhoras das sociedade que militam na tarefa de parecerem para sua platéia mulheres plenas de dons femininos. Doadoras de bens perecíveis, incentivadoras dos mais tradicionais predicados. Este dia é dedicado às mulheres que mudaram a sua realidade e a de outras companheiras. Mulheres que lutaram contra a injustiça, a violência, a discriminação, o preconceito. Mulheres guerreiras como minha presidenta, mulheres corajosas como Maria da Penha, mulheres de fibra como tantas domésticas anônimas, mulheres mães como as moradoras de favelas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Salvador, de Pernambuco. Mulheres como dona Zilda Arns, como minha Senadora Gleisi Hoffman, como Marta Suplicy. E como as mulheres cubanas, as mulheres iranianas, as mulheres egípcias, as mulheres iraquianas, as mulheres africanas, essas últimas todas em um continente humilhado, maltratado, despossuído. Mulheres pobres, que lutam para que não falte o pão aos filhos e aos netos. Essas são as mulheres que saúdo, nesta semana em que se comemora mais um ano de luta contra a violência, contra o preconceito, contra o machismo. VIVAM AS MULHERES BATALHADORAS PELA DIGNIDADE!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Condomínio Bolha


Neco Master afirma que não houve nenhuma coincidência entre o aparecimento do primeiro Condomínio Bolha e o aumento da temperatura do planeta em 10 graus, cinco anos depois. Eu me lembro de Copacabana quando ainda havia o jogo de futebol de areia à noite, as luzes de mercúrio e os amigos suados, loucos por batata frita regada a chope depois da partida. Com a bolha, essa Copacabana não existe mais, mas Neco Máster, que fazia os gols mais incríveis do nosso time no passado e ficou rico com a patente daquela idéia louca, surgida na mesa do Nicanor numa sexta-feira, chegou a dizer que é besteira minha ser saudosista. “Agora,- disse ele na ocasião- Copacabana é o paraíso dos Condomínios, o maior de todos, coberta por essa grande bolha à prova de bala perdida e de pobre.” Corre o boato de que do lado de fora as pessoas estão morrendo como moscas. As favelas foram as primeiras atingidas. Quem dependia de emprego no turismo não tem mais do que viver, mas o Neco Máster pouco se importa. Outros condomínios pipocaram, menores, em torno do primeiro, do Flamengo à Barra. Ar condicionado, um cinturão verde com legumes sem agrotóxicos ou praga, o preço astronômico incluído no condomínio, energia solar limpa A água do mar purificada, na temperatura exata, servindo a todos os edifícios. Sendo o prefeito o mais ilustre morador de Copacabana, nem preciso dizer que não temos queixas quanto ao funcionamento do sistema. Dizem que muitos moradores das favelas foram para o sul do país, mas lá a situação não é muito diferente, o calor transformou tudo num grande deserto. Não temos certeza de nada, afinal a mídia não mudou e somos reféns das notícias da Rede Multiglobal, mas ninguém se arrisca sair dos seus condomínios. Minha ex-sogra me liga uma vez por semana para dizer que as crianças vão bem, mas sentem falta do pai. Já minha ex-mulher nunca ligou. Acha que acabei do lado de cá de propósito. É claro que posso ir de metrô, mas não sou doido. Histórias de desaparecimentos correm por todo lado, melhor cada um ficar na sua (bolha). Neco Máster nega também que, trabalhando no Instituto de Pesquisa Climática, tenha se aproveitado de informações reservadas para patentear a idéia. Mesmo depois de ter ficado rico não conseguiu impedir que os americanos a copiassem, resultando disso que boa parte do mundo paga às multinacionais pela manutenção de seus próprios condomínios. Neco Master também é uma figura do passado, só temos notícias dele pela rede Multiglobal. Eu só lamento que a bolha, sendo de acrílico inquebrável, mas não tão transparente como eu gostaria, não me permita ver o céu de Copacabana nas noites de lua cheia e nas tardes de sol. E confesso ter saudades do futebol de areia e do chope gelado, no tempo em que as balas perdidas ainda nos preocupavam.