segunda-feira, 1 de abril de 2024

 A Velhice II


    Quero falar das dores da velhice. Não aquela dor que vemos quando temos coragem de encarar o espelho e aquela mulher (homem) desconhecid@ te devolve o olhar cercado de olheiras azuis, com o branco dos olhos, de fato cor de rosa, opaco e injetado de veias minúsculas. Não essa.

     Eu falo da dor mesmo, física, implacável, sem avisos e sem vergonha. Aquela que te assalta de noite ou de dia, em plena caminhada feliz da manhã, no cinema (quando você procura uma posição confortável na cadeira), ao soltar uma gargalhada  por uma piada boa, quando enxuga os pés depois do banho, quando vai guardar as panelas lavadas em baixo da pia, quando vai tirar aquela travessa de bacalhau nas natas do forno.

     Quando você percebe que sua pele parece estar toda queimada e mesmo a roupa tocando te traz essa dor angustiante. Quando você percorre sem solução todos os corredores de todos os consultórios disponíveis para acabar com ela e a maldita resiste a a farmacopeia  desses médicos a soldo dos laboratórios.

     Quando você, às vezes, quer desistir, se entregar a ela, a dor, a velhice. Quando percebe que ninguém entende sua dor, por mais que explique. Que, na verdade, ninguém pode fazer nada. Que existe. também, uma incredulidade das pessoas diante da sua dor. Porque a nossa dor é nossa, de mais ninguém., como diria Marisa Monte, em "De mais ninguém", dor física, real, que nos percorre o corpo à vontade, como um invasor que reconhece seu novo domínio. 

    Veio embarcado na velhice, uma nave que vem do futuro e aporta no teu corpo, fincando a bandeira imperialísta da vida.

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