Domingo passado estive no Hotel Capelista, a convite da Iara e do André, para participar de um "café com histórias". O evento fez parte do Projeto de Aprendizado deles e de mais duas alunas da UFPR Litoral, e trata do resgate de lendas e "causos" do litoral paranaense. Além de provar dos quitutes da Clotilde, cozinheira emérita e amiga, ouvi os relatos de pessoas conhecidas da população e suas memórias de infância e juventude. Escrevi para a Iara o que ouvi, para que ela acrescente aos relatos colhidos no decorrer do Projeto. Um deles é o que vai aqui.
I – Savarin
Criado no
Cachoeira, morou até ficar adulto onde hoje está construída a Usina Parigot de Souza,
da COPEL. Gostava de baile quando era adolescente e tinha um companheiro de
todas as horas, que era o Nicolau, filho do Tibúrcio, e que trabalhava na
construção da usina. Um não estava em lugar algum sem que o outro também não
estivesse.
Foi que um
dia o Nicolau passou na sua casa, contando que ia ter um baile na casa do seu
Vitório, lá no Rio Pequeno. Só tinha um problema: o Nicolau era da pá virada e
vivia aprontando encrenca. Por sua fama, estava proibido de freqüentar a casa
de nhô Vitório.
Savarin argumentou
com o amigo, pois sabia que coisa boa não ia dar, mas não conseguiu demover o
danado. Resolveu deixar a coisa correr. Combinaram de encontrar-se às oito
horas da noite e foram pela estrada, garrafa de cachaça da boa na mão, até
chegar o ponto da travessia do rio. O canoeiro que atravessava o povo para o
baile não queria levar o Nicolau, mas acabou sendo convencido, porque o danado
tinha lábia.
Na porta da
casa não deu outra: o Nicolau foi barrado. Savarin entrou, porque era bem vindo
na casa do festeiro, e resolveu aproveitar a festa, dançando fandango e
bebendo. Mas, volta e meia, lembrava do Nicolau e não conseguia sossegar,
porque sabia que o amigo não estava contente com a situação.
Depois de
nova tentativa para entrar, que não deu certo, Nicolau resolveu pôr em prática
um plano: foi até sua casa, pegou um sabugo de milho, um estopim de dinamite,
que ele tinha nas suas coisas de trabalho, e forjou uma bomba de mentira.
Voltou pra festa. Na casa do seu Vitório, que era também um bar, tinha o canto
das bebidas, que eram servidas pelo Bituca. No lugar em que ele ficava, por
trás do balcão, havia uma janela e foi por ali que o Nicolau jogou a bomba de
mentira, com o estopim aceso. Foi um esparramo de gente pra todo lado, uma
gritaria, e o estopim assoviando: szzzzzzzzzzzzz...
Quando
chegou o final, o Nicolau gritou da janela: BUM!!
E saiu dando
risada, vingado que estava.