sábado, 12 de novembro de 2011

Notícias de Obras da Cidade de Antonina



Não sendo eu disseminadora de boatos, prática abominável, que na minha casa não encontra abrigo, costumo questionar a quem de direito usando meu nome e sobrenome e palavras claras e objetivas. Este hábito, cultivado por minha família (marido e filhos e agora também os netos) nos tem granjeado inimizades e desafetos, mas também credibilidade, já que sempre assumimos (nós todos daqui de casa) a responsabilidade por nossas ações, com nome, CPF e RG.

Pois bem, neste blog fiz alguns questionamentos ao Senhor Prefeito, não por maldade, mas com todo o direito de cidadã, moradora do bairro do Batel e pagadora de todos os impostos legais, e que diziam respeito a obras iniciadas e sem continuidade no momento.

Ontem, em nome da Associação de Moradores do Bairro do Batel (AMBB), participei da VIII Conferência Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente do Município de Antonina, que foi organizada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Presente o Senhor Prefeito, que fez a abertura da Conferência.

Uma das qualidades que aprecio no nosso Canduca é a franqueza e a disponibilidade para explicar as ações de seu governo. Não estou sendo irônica. Esse defeito reservo para os desafetos, o que não é o caso. Nosso prefeito explicou o seguinte, que passo a relatar, uma vez que considerei como resposta aos meus questionamentos no blog:

1 - O Município de Antonina saiu do desastre de março deste ano muito fragilizado. A população parece esquecer que 88 famílias ainda estão desabrigadas e que perdemos duas vidas com a tragédia. Os esforços do município estão voltados para sanar, no menor prazo possível, as pendências decorrentes dessas prioridades.

2 – A crise internacional é séria e de proporções ainda não sabidas. O governo federal, com toda a razão, contingenciou verbas que estavam garantidas para as obras do município. Da mesma forma, o governo do estado, que havia garantido verbas para o município, reteve os valores, até que os horizontes internacionais sejam mais claros e permitam o gasto público.

Pertencem a este corte o asfalto da Penha, Pita e Praia dos Polacos, as ruas do Batel (por que parou...), o Ginásio de Esportes, o saneamento básico, a quadra da Feira Mar, do Jardim Maria Luiza.

Em compensação, as boas notícias, sempre necessárias:

Antonina venceu a guerra contra a mortalidade infantil: passou do índice de 24 mortes por 1000 habitantes para três mortes por 1000 habitantes. O programa Meu Filho, Minha Vida, desenvolvido na Estação aos sábados, para as futuras mães (adolescentes ou não), apresenta vídeos e palestras, orientações de profissionais e agendamento automático de ações de saúde até os dois anos de idade da criança.

Galerias pluviais estão sendo revistas, para impedir que as ruas inundem com a chuva.

A empresa Techint estará assinando no dia 24 de novembro um contrato com o governo do estado para ocupar uma área do Porto de Antonina, onde será instalada uma unidade da empresa, que irá fornecer à PETROBRÁS serviços na área do PRE-SAL. Isso vai significar 1500 vagas de emprego em Antonina.

A prefeitura entrou finalmente com o programa de reciclagem do lixo, retirando as famílias que trabalhavam no lixão para instalações adequadas, no barracão próprio da cooperativa. O aterro sanitário vai finalmente ser inaugurado e o lixão será um pesadelo do passado.

O prefeito queixou-se de que a cidade não oferece meios de comunicação para que essas notícias, boas ou más, sejam divulgadas (por que parou...), uma vez que não há jornal periódico e a prefeitura não pode investir nessa área, por falta de verbas. Mas eu quero lembrá-lo que a Internet oferece hoje a alternativa melhor de comunicação com a população e de graça. Um blog da prefeitura atualizado diariamente varreria os boatos que correm de boca em boca e que crescem em detalhes acrescentados pela imaginação fértil da população.

Estão aí, fatos e dados, que me vi na obrigação de divulgar. Quanto aos acontecimentos do Congresso, prefiro dizer apenas que a democracia é um exercício contínuo e difícil, mas que deve ser perseguido por todos os segmentos da sociedade. E que, mesmo em minoria, as organizações populares estarão representadas no novo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Primeira Noite do Pankadão





Olha no espelho os olhos pintados com capricho e o cabelo impecável, alisado pela chapinha e a escova marroquina. A saia de cintura baixa mal cobre o púbis, e deixa à mostra coxas grossas e morenas, bem torneadas. No espelho, de perfil, examina o traseiro arrebitado, menor que o da amiga, mas quase perfeito. Não esconde o desgosto pela vantagem que Tatiene leva sobre ela. Mas tem os olhos verdes e a boca carnuda, enquanto a amiga é quase feia de rosto. As duas têm treze anos. É o primeiro baile funk, mas a mãe nem desconfia dos planos que as duas vêm urdindo faz quase um ano. As outras amigas são liberadas da tutela dos pais, que não estão preocupados em como se divertem, bastando que cheguem antes que eles acordem pela manhã e se deitem como quem já dorme há horas. Ela nunca pode sair sozinha e a amiga mora no mesmo conjunto habitacional. As mães são conhecidas e vizinhas desde que se mudaram para lá, quando ela era uma garotinha de três anos. Cresceu na vila, conhecida como “Maré Vermelha”, porque fica perto do mangue e os prédios foram todos pintados de vermelho para a inauguração. Agora é um festival colorido, embora alguns prédios não tenham renovado a pintura e ostentem um vermelho sujo, quase marrom.
O baile funk rola todo sábado e é animado por uma turma pura nóia. As meninas mais velhas não lhes dão confiança de contar o que acontece no baile, as duas são pirralhas, mas as músicas elas sabem de cor. A rádio da comunidade toca durante o dia todo. Na escola se formam grupos no intervalo e a dança só é interrompida pela diretora quando o sinal da última aula já soou e ninguém se incomoda de entrar nas salas.
A mãe quer um destino diferente para ela, mas não sobra dinheiro para pagar escola particular e nem vaga em bairros mais seguros, por isso sabe que o destino da filha não será diferente das outras a não ser que vigie incansavelmente. O pai é porteiro de prédio de rico. Veio do nordeste há muitos anos e se conheceram no mesmo prédio em que ele trabalha até agora. Ela conseguiu deixar o emprego de doméstica quando nasceu a filha. Ajuda no orçamento vendendo Avon para as vizinhas e alisando os cabelos das adolescentes do conjunto. Ela se vira. Pela frequência das meninas na sua casa sabe como são os bailes e nunca vai deixar Daiane entrar num lugar desses.
O olho de Daiane lacrimeja, reagindo à maquiagem. Puxa um pouco mais a saia para baixo, pondo à mostra a marca do biquíni e a linha dos pelos, mas decide voltar à posição anterior, descobrindo o traseiro um pouco, só o suficiente para mostrar as duas dobrinhas. A amiga ri, passando a mão de leve:
-Isso é só uma amostra do que tu vai passar lá no baile. A Karina diz que os manos enfiam a mão na calcinha quando a gente abaixa na dança.
-Ê, em mim só vai passar a mão quem eu deixar.
-Então é melhor nem ir, irmã, se liga.
A mãe pensa que elas vão assistir a um filme na casa de outra amiga, no outro lado da vila. Nem estranha a roupa e a maquiagem, elas se vestem assim todos os dias. Daiane tem autorização para dormir na casa dessa outra amiga, a mãe tem medo que a filha tenha que vir sozinha e sabe que o marido não vai buscar, ele chega cansado, janta e dorme.
Está pronta, mas não pode sair assim, a mãe vai matá-la. Cobre tudo com uma jaqueta jeans do pai, enrolando a manga até o cotovelo. Põe uma sandália de plataforma que aumenta sua altura e a faz parecer mais velha. Agora sim, está perfeita! – pensa, enquanto a amiga lhe dá uma piscadela para advertir sobre a presença da inimiga, a mãe, que se aproxima devagar pelo corredor, para vigiar as duas, tão quietas.
Ao saírem, uma série de recomendações: - Direto pra casa, nada de parar e conversar com os meninos, estranhos ou conhecidos. Nada de aceitar convites, ligar para quem quer que seja, assistir filme pornô. Ai dela se souber que tem namorado. Ai das duas se desconfiar de alguma coisa errada. E mal a porta se fechou saíram em disparada pela rua principal, rindo como loucas e cantando as músicas que todas as garotas da escola sabem de cor.
O baile só começa à meia-noite, dá tempo de comprar um ”x” e uma coca na lanchonete, voltar pra casa da amiga e ficar dando um tempo até as mães dormirem. Todo mundo tem a chave da entrada. Ela resolve testar a roupa que está usando e tira a jaqueta na lanchonete. Sorri para o grupo de meninos na outra ponta do balcão e fica feliz ao ver que todos eles estão de olho nas suas pernas. A boca melada de gloss se abre num sorriso que ela ainda não sabe ser um convite. Eles se aproximam, todos ao mesmo tempo, e rodeiam as duas. O dono da lanchonete prefere ignorar o grupo e vai servir umas mesas do lado de fora.
São cinco rapazes e um deles conhece Tatiene.
-, vão no som?
-Tamo a fim, só tem que achar um carinha pra levar a gente. É a primeira vez.
A primeira vez. Todos eles olham com mais interesse para as duas, que decidem, sem terem combinado antes, fazer um gênero de meninas experientes.
- No baile, sabendo? Já fomos em outro, noutro bairro, com minha irmã mais velha. E Tatiene ri, mostrando uma fileira de dentes brancos.
- Já é, maninha. Vamo, tipo, agora.
Elas não acreditam, primeira vez e já sacaram cinco manos pra acompanhar. As garotas mais velhas vão morrer de inveja, os caras são maneros. Vão pelo atalho, um caminho evitado por todas as meninas. Ali acontecem os assaltos e estupros que alimentam os jornais e a rádio da comunidade. Mas não dá nada, estão acompanhadas. Dois deles já encaixaram as amigas nos braços:
- Tá comigo, tá com Deus!
-, gatinha vamo adiantar o balanço, abre pra nós.
-Abre o que, ô Mané – Tatiene tenta soltar o braço, mas o garoto segura com força e muda o tom de voz.
-Calma aí, menina, primeiro vamo brincar um pouco.
Daiane percebe finalmente que a sua primeira vez está prestes a começar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Senza Fine





Senza fine, tu sei un attimo senza fine
Non hai ieri. non hai domani
Tutto è ormai nelle tue mani. (Gino Paoli)
Ah, esqueci de dizer que essa mulher que você está vendo chorar na frente do computador, essa dona que assiste o vídeo da Ornella Vanoni e Gino Paoli pela oitava vez, essa aí, essa não sou eu. Eu não choro mais. Faz muito tempo eu sei que ”non è vero che l’amore è per sempre”. Ela chora muito, coitada. Eu mantenho essa distância e espero a ocasião para tomar meu lugar. Fico só de longe até que o vídeo acabe.
Veja bem que para mim não fazem sentido as mudanças de cenário, que são rápidas demais, eu me perco na narrativa, esqueço o que ia dizer e, quando vejo, já estamos em outro quarto, outras cortinas rendadas voando, e nós rodopiamos em volta dessa imensa cama que foi de minha avó, as peças de roupas atiradas entre risos, e a taça de vinho na sua mão, contra a luz, distorcendo as linhas do seu queixo.
Não, eu não. Não acredito mais, desde então, no amor “senza fine”. Nem no amor eu acredito, imagine se vou acreditar em amor para sempre.
Você se lembra? Era outono, um outono brasileiro, claro, mas, mesmo assim, as folhas do quintal se acumulavam pelos cantos e denunciavam os visitantes antes dos latidos do cachorro (como era mesmo o nome dele?). Antes que chegassem à porta, entrassem no quarto.
Olha lá, ela está mudando para outro sítio. Preciso me preparar para entrar em cena. Só eu consigo responder a tantas mensagens. Ela quer ler tudo, ri das piadas que Alice lhe manda todos os dias. Eu não. Apago as mensagens de compras fáceis, as correntes para salvar a menininha que precisa de transplante, as outras para salvar o globo, as profecias e maldições dos pastores eletrônicos.
E por que, de vez em quando, eu acordo num quarto de hospital, a luz mortiça das persianas escondendo o sol? Outro dia, alguém me perguntava se eu sabia onde estava. Respondi que sim, que era um hospital, e tal, e esse alguém sorriu e me apresentou um prato de sopa rala e fumegante, como se eu fosse mulher de tomar sopas, ainda mais em quartos de hospital.
Sim, me chamo Clarice. Pierre gostava de me chamar de Madame Bovary, naquele outro quarto, naquele outro outono. Dizia que eu era boa para inventar qualidades e defeitos. Quem é Pierre? Ora, eu já lhe disse, era o marido de Clarice. Não, não meu, dela.
Ela assistiu todas as versões de “Senza Fine”, desde que Ornela e Gino eram jovens. Ela chora quando eles se olham, sempre da mesma maneira, por anos a fio. Ela chora. Eu não, eu rio, porque sei que ensaiaram antes de gravar cada uma dessas apresentações.
Ela se chama Clarice e se encontrava com Pierre naquela casa vazia, naquele outono. Uma casa velha de sua avó morta, uma casa nos arredores da cidade. O quarto de janelas amplas para o pátio, o cachorro do caseiro. As cortinas de renda voando, a enorme cama de dossel, ninguém ouviu o barulho das folhas pisadas, ninguém ouviu o cachorro latindo. Ríamos, tontos do vinho, em volta da cama, as roupas atiradas ao vento. Foi Clarice que abriu a porta e nos viu livres e nus, tontos de vinho. Ela me olhava com esse olhar que ficou para sempre preso no seu rosto, essa incredulidade, esse espanto único e para sempre paralisado, como o filme no “pause” enquanto vamos ao banheiro. Eu a vejo sempre assim. Olhe só, ela ri da piada que Alice lhe mandou hoje. No hospital deixam que tenha o computador, onde escreve seus versos ao amor eterno.
Eu estou aqui, como vê, esperando minha vez.

domingo, 6 de novembro de 2011

Parabéns, Antonina!!!!!


Esta linda cidade faz 295 anos de emancipação hoje. A festa na cidade é para os moradores dela, com comemorações desde sexta-feira. Abaixo, German e seus amigos da Escola Braços Abertos, no desfile de hoje: