sábado, 16 de outubro de 2010

Poema nº 35




O Porto Seco
(do jeito de guimarães rosa)

O porto seco, de sem-mar, do de sal depositado,
do além mais do sol, de não alcançar, e descer até;
e de rio, remanso vindo, vindo, vindo, nenhum chegando, desanunciado.
Escuto não, pois? Porto seco, de aonde?
De vai, de vem, de tudo maquinado no quente.
Longe de muito, o viajar começado - aonde o trajeto? - de lá, mesmo, e mesmo que rio que é, sendo, serpenteado, do dessa figura do não-chegar.
De rios, eu, nós, não conjugamos entendimentos, e ciência não, se tanto nunca sabemos,
nunca é, e, quando olhos-mesmo-de-ver, possível fosse,
águas de barrenta prenhez: não sei, é, hão-de, do jeito de depois, eu, nós, não-sendo foi.
Quanto nem fosse que tantos os entrementes, de assim, e apois, e, passar de árvores,
renhida a luta galhosa,de vegetais torcidosos, de doloridos uivos, raiz-de-onde,
vindo, de ter chegado, faisqueira de bem de antes: aonde, não sei, se?
Porto do seco, inseguro-não, do tremendo: volteada a costa, do jeito indo, é não,
sendo cais-de-chegar, não fundeia de ausente muito, de não vindo,
de saído ancorado no lugar de lá, dos antes, do tudo,
do porto onde exatos são os afundamentos, os de não chegares, de ver-não, de-nunca-foi.
Há o porto, do vir de onde, do depois de, do de ventos marujados.
Há de ser, fosse do que vem, do é que vinha, anunciada é a voz: porto seco, de águas-não.
Aonde, não sei, se?
(Antonina, dezembro/2001)

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